Foto: Divulgação/ News
Acompanhe o texto desenvolvido por Luciano Pagliarini, atleta patrocinado pela Fast Runner
Tour de France 2005, dia 5 de
julho, 4° etapa, eu fui um dos últimos atletas a alinhar para a largada.
Momentos após, como de costume, Lance Armstong alinha também, sendo o último a
se apresentar para a prova. Ao meu lado vestido normalmente com o uniforme da
US-Postal Service.
Lance desencaixa as
sapatilhas dos pedais e espera a bandeira de largada, foi ali que tive a oportunidade
de presenciar um momento marcante na
minha carreira, mas que porem passou despercebido para o mundo inteiro.
Fato é que Lance havia
conquistado a camisa amarela no dia anterior, quando foi diretamente
beneficiado pelo azar do também americano David Zabriskie (equipe CSC), que era
o atual líder do Tour.
Na última curva da cronômetro
por equipe Zabriskie tocou o pedal direito no asfalto sofrendo um grave
acidente, perdendo assim a "maglia" para o segundo na classificação
geral, nada mais nada menos que Lance Armstrong.
Como gesto de lealdade ou
espírito esportivo, não sei, Armstrong se negou a vestir a "Maglia
Gialla" naquela etapa, talvez não considerasse justo pois havia conquistado
em benefício do infeliz tombo de Zabriskie .
Quando levantou-se a placa de
um minuto para a largada começou a confusão. Eu, de camarote, assisti o diretor
geral da prova se aproximar de Armstrong, com espanto pelo fato do atleta estar
vestindo seu uniforme usual. O diretor batendo o indicador no vidro de seu relógio
demonstrava toda sua preocupação pelo pouco tempo restante para a largada,
batia no relógio a ameaçava o americano, dizendo que ele não podia largar sem a
camisa de líder. Ficaram nesse impasse até aparecer a placa de 20 segundos
quando Johan Bruyneel, o Diretor esportivo da US-Postal, desce do carro com a
camisa amarela em mãos e interfere pedindo para o atleta vesti-la. Nesse mesmo
momento a bandeira estava abaixando e começaram os “tac-tacs” dos tacos encaixando
nos pedais, Armstrong tira o capacete, óculos e a maglia US-Postal, o pelotão
começa a se movimentar, veste a camisa amarela, coloca o capacete de qualquer
jeito e larga segurando seus óculos entre os dentes. Mesmo com os óculos na
boca conseguia falar "fuck, fuck, fuck" deve ter soltado uns 30
"fucks" durante a largada e assim seguiu.
Lance acabou não ficando de
fora do pelotão, mas largou muito nervoso sem os números na camisa e sem
alimentos nos bolsos. Naquele dia a etapa teve seu início com ritmo particularmente
forte. Andamos os primeiros 60 km com quase 55 km/h de média, aconteceram
muitos ataques, até sair uma fuga e o pelotão se estabilizar em uma velocidade
de cruzeiro. Foi ai que Lance teve a oportunidade de erguer o braço no fundo do
pelotão e pedir para seu carro de apoio lhe trazer os números, barrinhas energéticas
e alimentos para etapa. Os números foram colados tortos pelo mecânico da janela
do carro, seu abastecimento foi dado por Bruyneel enquanto dirigia e dessa
forma Armstrong ficou no meio do pelotão durante toda etapa. Para ele se
tratava de uma etapa de transição, pois era plana e chegaríamos disputando o
sprint final. O americano simplesmente completou o percurso do dia vencido pelo
velocista australiano Robbie McEwen e o fato passou despercebido aos olhos de
muitos.
Para mim foi um momento
marcante, embora poucos tenham notado. De noite no hotel contei o fato para os
meus companheiros durante a janta, ninguém havia percebido e foi um motivo de
muita curiosidade para todos.
Neste Tour de France, Lance
perdeu a liderança na 9ª etapa para o alemão Jens Voigt, mas recuperou
novamente na 10ª levando com muita determinação a Camisa Amarela até o risco
final de Paris, etapa vencida de forma impressionante por Aleksandr Vinokurov.
Historias do pelotão!
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Luciano Pagliarini é ciclista brasileiro com mais de 300 vitórias, competiu por 11 anos na elite do ciclismo Mundial participando de provas clássicas como Tour de France, Giro de Itália, Volta da Espanha, Paris Roubaix e Olimpíadas.
Bons treinos!
Equipe Fast Runner
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