6 de ago. de 2010

Vida longa aos meus artistas

por Hebert Wagner Polizio,


No passado a Itália era infestada por exímios soldadores, que com suas hábeis mãos concebiam quadros que mais pareciam jóias, alguns até faziam seus “cachimbos” bem rebuscados e com uma incidência de curvas e traços, deixando suas criações com um ar bem barroco (vide o modelo lançado por Ernesto Colnago com o nome Arabesque).

Como sou um apaixonado por quadros de cromo clássicos, feitos pelo processo de “cachimbos” ou lug’s, isso despertou uma preocupação pela manutenção dessa arte dominada por muito poucos especialistas em um mundo afetado pelo negro e comercial carbono dos tempos modernos.

Uma nova onda de single-speed e fixas tem tomado a América, essa onda me vez reconhecer coisas boas e abriu meus olhos para uma preocupação por meu jeito saudosista de ser.

Essa nova mania em solo americano fez surgir uma tendência meio nebulosa, misturando um jeito vintage e retro com cores e tons berrantes, com tribos próprias para essas bikes urbanas quase sempre feitas de aço... uma confusão sensorial boa, mas ainda assim uma confusão.

Passado alguns anos temos um problema de demanda gerada por esse tipo de mão de obra em terras italianas e a total falta de atrativos para uma nova geração em ser treinada e moldada para
esse ofício, e analisando isso comecei a ficar receoso... Será???

Mas com um olhar um pouco mais aberto acabei percebendo que essa nova onda citada acima fez despertar o interesse desse tipo de técnica em ter navegado para o outro lado do atlântico, tomando o caminho e se estabelecendo em terras norte americanas... arghhh!!!!

Obviamente para não ser crucificado pela minha expressão de descontentamento (arghhh!!!) na observação dessa tendência, esse sentimento espontâneo vem revestida de uma condição nada racional e meramente emocional, assim como alguém que torce para um time de futebol, acaba sem uma razão lógica não morrendo de amores por outro time, eu não morro de amores pelas expressões artísticas da terra do Tio Sam... mas olhando friamente, eu com certeza não poderia criticar um trabalho do frame-builder norte-americano Richard Sachs, somente por ele não ter nascido na terra da bota.

Como a tendência em venerar lug’s e steel tomou força nos E.U.A, para isso basta observar que a cada ano que passa a feira North American Handmade Bicycle Show fica ainda maior, feira esta que foi idealizada por outro exímio frame-builder americano chamado Don Walker e hoje conta com 108 exibidores, sendo em sua grande maioria frame-builders do velho e bom aço e o restante em empresas como Dedacciai, Chris King e outras que observam atentamente um
grande filão se formando de consumidores que apreciam algo feito a mão e não por uma máquina computadorizada provavelmente operada pela mão de obra barata de terras chinesas.

A técnica apurada desses novos jovens norte-americanos munidos de um senso estético nem sempre de encontro ao meu, ganha força e volume, fazendo que em parte eu fique tranqüilo em não ver essa arte de produzir jóias em aço sumir da face da terra. Mas continuo ainda assim reticente de não poder ver ser repassado a arte de fazer quadros, assim como ainda fazem as casas de Ernesto Colnago, Ugo e Doriano DeRosa ou mesmo de Giovanni Pelizzoli um ex-aprendiz da família DeRosa, que criou a marca dos quatro ases Ciöcc, eu tenho medo de que o país de Petacchi ou Cipollini não perceba que um de seus mais valiosos tesouros (na minha ótica) tenha com o passar do tempo migrado de continente. Lunga vita!!!

Hebert Wagner Polizio é responsável comercial do Grupo http://www.fastrunner.com.br, colunista da Revista VO2, colecionador e alucinado por bicicletas clássicas.

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