Mostrando postagens com marcador Colnago. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Colnago. Mostrar todas as postagens

6 de out. de 2010

Clássicos Renovados

Por Hebert Wagner Polizio.

Algumas marcas estão aderindo ao renascimento de modelos clássicos, este revival pode ser observado em quase todas as áreas da indústria ciclística: roupas, equipamentos, acessórios e especialmente os quadros.

Casas italianas mais tradicionais ainda mantêm em sua linha de produção quadros em cromolibidenio produzidos pelo processo de “lug’s” ou como são chamados no Brasil de cachimbos.

Hoje encontramos Colnago, De Rosa, Wilier, Casati, Ciocc, Basso, Tommasini produzindo jóias no velho e bom aço.

Mas somente recentemente resolvi experimentar uma dessas jóias renascida, achava que ela provocaria nada mais do que as sensações que já estava acostumado a sentir nos produtos que garimpei em viagens e pelo qual dediquei muito do meu tempo em recuperações.

A tecnologia em materiais provocou uma doce revolução nesses produtos, ligas de metais mais modernas conseguem produzir quadros em aço muito leves, obviamente nada comparado aos carbonos mais top’s de algumas fábricas, mas tão leve quanto a grande maioria das bikes de carbono de entrada das mais variadas marcas.

No quesito leveza obviamente já estava impressionadíssimo com o que a modernidade conseguia fazer com o peso e a tradição do passado.

Quando fui fazer o primeiro pedal em AlphaVille onde em alguns trechos não temos o melhor dos asfaltos pude notar que a qualidade que mais prezava nos quadros de aço ainda estava presente, a absorção da vibração estava ali mais viva do que nunca e trabalhando ao meu favor, provocando uma sensação gostosa, neutralizando as imperfeições do asfalto que percorria a estrutura do quadro tentando encontrar meu corpo.

Achava que quando forçasse um pouco a pressão nos pedais iria sentir o leve “torcer” tão característicos dos quadros “macios”, então me posicionei agressivamente sobre a bike, procurei uma subida curta de pouco mais de 300 metros e apliquei cadenciadamente toda minha força esperando ultrapassar aquele leve aclive o mais rápido possível, mas certo de pagar o preço pelo meu luxo-saudosista e perder eficiência pelo flexionar lateral que esperava sentir.

Foi ai que fiquei mais impressionado, logo após cruzar seu topo esperei minha pulsação voltar ao normal, retornei em meia volta e desci aquele pequeno morro com a intenção de experimentar um novo ataque, mas dessa vez apliquei toda minha força na intenção de forçar a torção do quadro e recuperar todas as sensações do passado.

Tomei um pouco mais de fôlego e usei um estilo muito mais de força do que de giro e com uma ou duas marchas mais pesadas encarei esse segundo ataque...Vapt...vapt...vapt...e nada de torcer, minha freqüência cardíaca já estava bem próxima dos 90% e ainda tinha percorrido apenas metade dessa pequena subida...Vapt...vapt...vapt...forcei ainda mais e com o coração quase na boca e chegando ao máximo lembrei de Mario Cipollini em suas sensacionais volatas,...quase sem sangue no cérebro para raciocinar constatei que mesmo com toda violência empregada nos pedais nada do meu novo e renovado quadro torcer.

Talvez o flexionar lateral que sempre presenciei em minhas bikes do passado e não julgava nem um pouco produtivo tinha agora depois de alguns anos desaparecido: trefilação, laminação, formas internas e externas diferenciadas, programas de computador para calcular tensão em pontos críticos e tudo de mais moderno foi usado para aperfeiçoar o que no meu modo de ver já era quase perfeito.

Tudo que é bom pode melhorar ainda mais e a tecnologia cuida de renascer ainda mais belo e eficiente minhas jóias do passado.


Hebert Wagner Polizio é responsável comercial do Grupo Fast Runner, colunista da Revista VO2, colecionador e alucinado por bicicletas clássicas.

6 de ago. de 2010

Vida longa aos meus artistas

por Hebert Wagner Polizio,


No passado a Itália era infestada por exímios soldadores, que com suas hábeis mãos concebiam quadros que mais pareciam jóias, alguns até faziam seus “cachimbos” bem rebuscados e com uma incidência de curvas e traços, deixando suas criações com um ar bem barroco (vide o modelo lançado por Ernesto Colnago com o nome Arabesque).

Como sou um apaixonado por quadros de cromo clássicos, feitos pelo processo de “cachimbos” ou lug’s, isso despertou uma preocupação pela manutenção dessa arte dominada por muito poucos especialistas em um mundo afetado pelo negro e comercial carbono dos tempos modernos.

Uma nova onda de single-speed e fixas tem tomado a América, essa onda me vez reconhecer coisas boas e abriu meus olhos para uma preocupação por meu jeito saudosista de ser.

Essa nova mania em solo americano fez surgir uma tendência meio nebulosa, misturando um jeito vintage e retro com cores e tons berrantes, com tribos próprias para essas bikes urbanas quase sempre feitas de aço... uma confusão sensorial boa, mas ainda assim uma confusão.

Passado alguns anos temos um problema de demanda gerada por esse tipo de mão de obra em terras italianas e a total falta de atrativos para uma nova geração em ser treinada e moldada para
esse ofício, e analisando isso comecei a ficar receoso... Será???

Mas com um olhar um pouco mais aberto acabei percebendo que essa nova onda citada acima fez despertar o interesse desse tipo de técnica em ter navegado para o outro lado do atlântico, tomando o caminho e se estabelecendo em terras norte americanas... arghhh!!!!

Obviamente para não ser crucificado pela minha expressão de descontentamento (arghhh!!!) na observação dessa tendência, esse sentimento espontâneo vem revestida de uma condição nada racional e meramente emocional, assim como alguém que torce para um time de futebol, acaba sem uma razão lógica não morrendo de amores por outro time, eu não morro de amores pelas expressões artísticas da terra do Tio Sam... mas olhando friamente, eu com certeza não poderia criticar um trabalho do frame-builder norte-americano Richard Sachs, somente por ele não ter nascido na terra da bota.

Como a tendência em venerar lug’s e steel tomou força nos E.U.A, para isso basta observar que a cada ano que passa a feira North American Handmade Bicycle Show fica ainda maior, feira esta que foi idealizada por outro exímio frame-builder americano chamado Don Walker e hoje conta com 108 exibidores, sendo em sua grande maioria frame-builders do velho e bom aço e o restante em empresas como Dedacciai, Chris King e outras que observam atentamente um
grande filão se formando de consumidores que apreciam algo feito a mão e não por uma máquina computadorizada provavelmente operada pela mão de obra barata de terras chinesas.

A técnica apurada desses novos jovens norte-americanos munidos de um senso estético nem sempre de encontro ao meu, ganha força e volume, fazendo que em parte eu fique tranqüilo em não ver essa arte de produzir jóias em aço sumir da face da terra. Mas continuo ainda assim reticente de não poder ver ser repassado a arte de fazer quadros, assim como ainda fazem as casas de Ernesto Colnago, Ugo e Doriano DeRosa ou mesmo de Giovanni Pelizzoli um ex-aprendiz da família DeRosa, que criou a marca dos quatro ases Ciöcc, eu tenho medo de que o país de Petacchi ou Cipollini não perceba que um de seus mais valiosos tesouros (na minha ótica) tenha com o passar do tempo migrado de continente. Lunga vita!!!

Hebert Wagner Polizio é responsável comercial do Grupo http://www.fastrunner.com.br, colunista da Revista VO2, colecionador e alucinado por bicicletas clássicas.